O texto de opinião do nosso Director-Adjunto, “A preto e… preto”, ontem aqui publicado, tem registado vários comentários, nem todos publicáveis, por parte dos nossos leitores. É claro que o vice-cônsul de Angola em Lisboa, Manuel Mário Silva, só comenta o texto nos areópagos do Consulado e da Embaixada mas, como faz parte do ADN do MPLA, prefere ser assassinado pelos elogios do que salvo pela crítica. Está no seu direito.
Também o Cônsul Geral, Narciso do Espírito Santo Júnior (no cargo desde 9 de Junho de 2016), adopta a mesma estratégia, cumprindo ambos as ordens superiores recebidas, neste caso, directamente do Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Angola em Portugal, Carlos Alberto Saraiva de Carvalho Fonseca. Isso não evita que, indirectamente, nos mandem avisos (filantrópicos).
Esses avisos (similares aos que nos enviavam nos tempos do embaixador Marcos Barrica, e até antes) não nos impedem, como é óbvio, de continuar a abordar o assunto. E a lógica é simples. Se para nós não é o embaixador, nem sequer o Presidente do MPLA, quem define quem é angolano, também não serão eles a dizer o que devemos escrever.
Aqui chegados, retomamos o assunto com a publicação integral e ipsis verbis de dois comentários de leitores do Folha 8:
«O branco angolano já foi mais angolano que os outros angolanos no colonialismo? Não… é o mesmo angolano que os outros no colonialismo ou depois do colonialismo. O negro angolano é mais angolano que os outros depois do colonialismo? Não. É o mesmo angolano que os outros antes ou depois do colonialismo.
Para se ser nacionalismo genuíno é preciso ter uma cultura própria. Uma língua própria. Ora a língua oficial que se fala em Angola é o português. Logo esta língua é do angolano branco e do angolano negro. Então é correcto o Bilhete de Identidade ser atribuído a todos os angolanos nascidos em Angola sejam brancos, negros ou amarelos.
Angola não vai ficar bem mais rica ou mais pobre por isso. É apenas um Bilhete de Identidade, um documento, um papel que ninguém leva para a cova quando morrer. A mais o verdadeiro angolano é aquele que ama Angola, sente Angola e faz algo por Angola. Portanto não existe espaço para contextos racistas neste tema. Distribuam os Bilhete de Identidade a todos que quiserem. Angola fica a ganhar.»
Eis o segundo comentário: «A não aceitação dos brancos como cidadãos angolanos em pé de igualdade com negros e mestiços é apenas a repetição dos malditos critérios do regime colonial.
Teremos apenas de considerar como brancos aceitáveis para a atribuição da nacionalidade angolana os “assimilados” do MPLA?
Bom, a ser assim, os colonialistas de antanho devem pular de alegria nas sua tumbas, pois os actuais governantes de Angola comportam-se como fiéis seguidores dos princípios básicos da segregação tão querida a esses colonialistas.
A perspectiva é pois de mais meio século de ”mais do mesmo”, embora com outras roupagens.
Verdade seja dita, com o envio ao ostracismo dos brancos, menos os “assimilados”, quem vai perder a longo prazo nunca serão os ostracizados. Serão Angola como um todo e até mesmo os negros que pensam assim se perpetuar no poder. Mas essa perpetuação é patética e pateta. Basta ver os aviões cheios para Lisboa e para o Porto, o envio dos filhos dessa minoria para estudar no estrangeiro, o envio dos doentes para clínicas e hospitais no estrangeiro, as invasões de angolanos que se verificam em lojas e centros comerciais da antiga metrópole colonial, para se constatar o falhanço do actual regime.
Mas não são só os brancos “não-assimilados” os proscritos, há muitos negros, e muitos com uma boa formação escolar, a escolher com os pés, ou seja a irem para fora do país.
Até aonde é que os “genuínos e assimilados” gestores de Angola pretendem ir? Continuarão a caminhar alegremente para o abismo.
Entretanto a maioria dos “brancos não-assimilados” nascidos na Angola colonial vão morrendo, é a lei natural da vida, e conhecimentos, experiências e capacidades lá se perderão para sempre.
Ah! Mas assim os “genuínos e os brancos assimilados do MPLA” ficarão mais descansados. A sua situação de privilegiados continuará intocada.
O resto do povo, a grande maioria dos “pretos descalços”… que se lixe.»